Projeto Cartas Cruzadas
O projeto “Cartas Cruzadas” surgiu através de uma tentativa de mudar um bocadinho do mundo, por parte de uma jovem de 20 anos, Mariana Neves. Ao aperceber-se da felicidade que uma carta lhe trazia e do fator “instantâneadade” associado às novas tecnologias, Mariana quis dedicar algo às pessoas, algo palpável, real, que para além de tornas as pessoas mais felizes, pode-se tornar-se eterno.
Este é um projeto de partilha que aproxima pessoas que poderiam já se conhecer ou não. “Eu chego mesmo a sentir saudades se algumas pessoas demoram um pouco mais a responder-me. E são saudades tão boas”, já dizia Mariana.
No primeiro mês de criação do projeto choveram cinquenta pedidos. E hoje, já passou além fronteiras. A jovem já troca cartas com o Brasil, a França, a Inglaterra e a Austrália.
Através de pequenos gestos, é possivel mudar um bocadinho o mundo. E foi com base nisso, que a jovem sonhadora conseguiu influenciar a vida de cada pessoa que aderiu ao projeto de diferentes formas positivas. Segundo Mariana, “ninguém fica indiferente a uma carta, ao tempo que alguém dedicou a escrever só para eu ler, alguém que durante uns minutos focou-se na nossa ligação.” o que é altamente promotor de algo que hoje tem sido esquecido no mundo: ter tempo paraas outras pessoas, não só para quem nos é demasiado próximo mas também para as outras que estão lá e também precisam, ter tempo para ouvi-las, ter tempo para partilhar e para fazê-las sentir parte da nossa vida. No entanto, apesar das cartas começarem por ser direcionadas para Mariana Neves, ao fim de um determinado período de tempo, quem participa no projeto pode juntar-se ao grupo “Cartas Cruzadas”, onde os vários participantes que se quiserem juntar, podem trocar cartas entre si, e formar novas amizades.
A jovem ambiciona chegar cada vez a mais corações, criar parcerias novas, torná-lo cada vez mais profissional, para não parar de o fazer crescer e para continuar a enviar felicidade para todos os cantos do mundo. Assim, para todos os interessados basta contactarem a página de Facebook facebook.com/pages/Projecto-Cartas-Cruzadas/218313081662167 ou o blogue letsmaketeanotwar.blogspot.pt/p/cartas-cruzadas.html onde estão disponíveis todos os passos a seguir para que possam participar no projeto.
ATACA – Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana
ATACA – Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana fundada desde 2006 pretende combater a pobreza extrema e visa o desenvolvimento humano em África, mais concretamente em Moçambique. Neste momento, a organização de solidariedade sem fins lucrativos ajuda 300 crianças através de tutores, que se disponibilizam em ajudar uma ou mais crianças com um donativo mensal, promovendo assim a educação, a saúde e a alimentação. Para além dos tutores é através dos voluntários e da angariação de fundos que a associação localizada no Porto se mantém de pé. São cerca de 50 os voluntários, que trabalham em diversas áreas: comunicação, angariação de donativos, gestão de projetos e formação de voluntários, que fazem parte desta luta incessante para combater a pobreza em África.
A ATACA desenvolve projetos em Moçambique, nomeadamente em Quelimane, Milevane e Inhassunge, com equipas de voluntários no terreno que fazem a ponte entre a organização e os pareceiros; geram tarefas de acompanhamento às famílias; identificam prioridades e ainda fazem toda a gestão dos donativos que a ATACA consegue angariar através de campanhas de consignação do IRS, produtos de merchandising e a organização de eventos.
A coordenadora do projeto em Portugal, Adriana Leite, responsável por organizar a correspondência entre o tutor e a criança entre outras funções, ressalva que a maior dificuldade é profissionalizar a organização. “Precisamos de profissionais. Os voluntários precisam deles, para um melhor acompanhamento”.
Entrevista a Bárbara Pereira, voluntária através do Serviço Voluntário Europeu no Quénia
Pegada: O que te levou a fazer voluntariado?
Bárbara: O que me levou a fazer voluntariado foi um conjunto de várias razões. Desde cedo que senti que necessitava de introduzir vários e novos estímulos na minha vida que não encontrava à minha volta, aqui, no local onde me encontrava. Existia sempre uma insatisfação que me fez, desde cedo, procurar uma forma de estar em contacto com várias culturas, especialmente as do continente africano, e de ser sentir-me útil em alguma atividade onde pudesse aprender algo novo e que estivesse fora da minha zona de conforto habitual. Foi assim que encontrei o Serviço Voluntário Europeu e que este me abriu as portas para tudo isto e muito mais.
Pegada: Pensas que é importante ter uma experiência em voluntariado?
Bárbara: Sim. Independentemente dos motivos que nos possam levar ou não a fazer voluntariado, ele traz-nos descobertas que mais nenhuma experiência nos pode trazer.
É importante sairmos da nossa zona de conforto, essa área que nos faz sentir bem mas que, ao mesmo tempo, nos limita tanto. No fundo, temos muito a descobrir de nós mesmos e isso apenas é possível através do contato com os outros e das suas realidades. Considero que o voluntariado é uma excelente forma de auto-conhecimento e crescimento pessoal para além de ajudar-nos a valorizar o que realmente é importante para vivermos uma vida o mais plena possível.
Pegada: O que te mudou naquele ano?
Bárbara: Depois do ano que vivi no Quénia, as mudanças foram muitas e enumerá-las todas seria impossível. As principais diferenças que noto são, sem dúvida, nos pequenos hábitos diários e na forma de encarar a vida. Ter trabalhado com as comunidades dos bairros de lata, especialmente com crianças e jovens, deu-me uma perspetiva diferente das desigualdades sociais a nível global e da sorte que eu tenho por ter nascido num dos lugares certos do planeta. Depois desta experiência, tornei-me muito mais prática, pro-ativa e determinada pois essas foram e são características que fazem a diferença na hora de intervir e poder fazer a diferença na vida de alguém. Aprendi que a vida tem um valor demasiado alto para se desistir dela ou rotulá-la, constantemente, como uma corrida de obstáculos.
Pegada: Qual foi o teu trabalho na organização?
Bárbara: Vivi num orfanato e, durante esse período, algumas das tarefas passavam por dar apoio na rotina diária das crianças do Wanalea Children’s Home. Para além de ajudá-los nos estudos e trabalhos de casa, dava-lhes aulas de Português, Educação Cívica e Direitos Humanos aos fins de semana e durante as férias. Duas vezes por semana, deslocava-me a um dos bairros de lata que apoiavamos, Soweto, para dar aulas de Educação Cívica e Direitos Humanos a alunos de uma Escola Secundária. Também apoiava a organização em todos os outros programas de apoio e distribuição alimentar em outros bairros de lata, monitorizando a distribuição do almoço nas escolas do bairro de lata de Kitui Ndogo e fazendo distribuições de comida às famílias mais carenciadas.
Pegada: Pretendes estar sempre em contato com este tipo de experiências, se sim como?
Bárbara: Desde que voltei que estou sempre em contato com projetos de voluntariado. Seja através da organização que me enviou, a Casa da Juventude de Amarante, seja através do apoio de voluntários que me procuram para saber mais acerca destes programas de voluntariado.
Depois desta experiência, desenvolvi um grande interesse pela área do Voluntariado e dos Direitos Humanos e sem dúvida que um dia pretendo dedicar-me a estas causas a 100%. Até lá, vou participando em vários projetos que me permitam ganhar novas competências nestas áreas e desenvolver o meu crescimento pessoal.
Pegada: Qual foi a maior dificuldade durante aquele ano no Quénia?
Bábara: Esta é uma das questões que me faz pensar na resposta durante mais tempo pois as dificuldades foram quase nenhumas. Claro que houve uma adaptação muito grande pois a cultura queniana é muito diferente da nossa. Para mim foi muito fácil adaptar-me à cultura pois sempre me identifiquei imenso com as culturas africanas. Alguns aspetos culturais que levaram mais tempo a assimilar foram a alimentação que, por ser excessivamente baseada em hidratos de carbono, dificultou a adaptação do meu organismo nos primeiros meses. A discriminação positiva em relação aos brancos também foi outros dos aspetos que me causou desconforto, principalmente quando me encontrava na companhia de amigos quenianos e o tratamento que me destinavam era diferenciado do deles. Por outro lado, foi esta discriminação que fez com que nunca me sentisse insegura e que acabou por me levar a conhecer imensas pessoas a que hoje chamo de amigos.
Pegada: Qual foi o aspeto mais positivo que tiraste desta experiência?
Bárbara: O aspeto mais positivo foi ter crescido de uma forma que seria impossível se nunca tivesse partido. O ano que vivi em África ajudou-me a saber qual o caminho que pretendo seguir no futuro e a ser mais independente, por sentir que sou mais capaz hoje do que era na altura.
Para trás, ficaram muitos amigos mas também pedaço de chão que irei voltar a pisar novamente um dia.
Soraya Meyer
Espaço T – “Embaixadores da felicidade”
“O que nós procuramos é a felicidade”. A definição de Jorge Oliveira, diretor do Espaço T, pretende dar contexto à organização de solidariedade, que tem como principal foco “alimentar a alma”.
Pela a instituição de combate à exclusão social já passaram 10 mil utentes, que apresenta 20 ateliês diversificados que vão da dança, ao teatro e à fotografia. “É importante promover uma mudança social através da arte.”realça Jorge Oliveira. O Espaço T desenvolve o seu trabalho com as camadas mais frágeis, com o objetivo de contribuir para uma maior autoestima e melhor integração na sociedade. “Isto acaba por ser um espaço mágico, onde os utentes se sentem integrados”, explica o enfermeiro, que desde 1994 abraçou o projeto com todo o coração.
Arte, emprego e formação são áreas fulcrais integrantes na instituição. “Temos o intuito de fazer com que as pessoas sejam felizes e capazes, para que depois possam encontrar emprego”, sublinhou. No Espaço T está ainda inserido um projeto comunitário, que envolve um trabalho em escolas, abordando temas como a obesidade e outras atividades como o apoio ao estudo.
O Espaço T lança agora no seu 20º aniversário, uma campanha de angariação de fundos fundamental para a sua sustentabilidade, intitulada “Os embaixadores da felicidade”, com a missão de divulgar o trabalho realizado ao próximo. Para passar a mensagem juntaram-se aos utentes 20 figuras públicas. “Espero que a sociedade civil olhe para o Espaço T com carinho e que nos ajude a passar esta fase difícil, para que possamos continuar a fazer o nosso trabalho, que é feito com muito amor”. Apela, o diretor da instituição.
AMAM O PALCO E SÓ PEDEM PALMAS COMO SALÁRIO
“Quem é ator amador deposita no teatro um amor, talvez maior do que aqueles que são profissionais”. Quem diz é Tiago Sousa. Durante o dia, o seu papel é de treinador de futebol das camadas jovens do Bairro do Falcão; depois da jornada de trabalho, dedica-se com alma e coração na busca incessante de ser um melhor ator. É um dos rostos da Escola Dramática e Musical Valboense, em Gondomar, que forma artistas há 109 anos. E que organiza um festival de teatro que vai na 30.ª edição.
A paixão de Tiago por esta arte começou bem lá atrás, quando fazia peças na primária. A partir no 7º ano, foi fazendo cada vez mais teatro. Até hoje. Na peça “Os imigrantes”, contracena com José Couto, antigo ourives, atualmente no desemprego. “Comecei a assistir espetáculos quando era criança, ia com os meus pais ao Teatro Sá da Bandeira, e foi aí que o bichinho por este mundo despertou em mim”, recorda José, que deu os primeiros passos na coletividade ao pé de casa, Os Briosos Valboenses, onde fazia revista. “ A única diferença ente um ator amador e um profissional é que o amador não recebe dinheiro”, sublinha.
A vida dos atores de teatro não é fácil, "mas quem corre por gosto não cansa”, desabafam Tiago e José, que deixam de passar mais tempo com as famílias, mal têm tempo para jantar e ainda são condicionados pelos transportes, para estarem presentes nos ensaios. “Gostamos de estar em palco, é um amor incondicional”. Entre memórias e nostalgia, relembram episódios marcantes em palco, principalmente os de improviso. “ Houve um momento muito engraçado, quando estava a contracenar com outro ator e tive que improvisar o texto do meu colega, porque ele tinha-se esquecido” recorda Tiago, que refere não se preparar muito antes de entrar em palco: ”As coisas saem naturalmente”. No fim do espetáculo, as palmas são tudo para nós”, remata José Couto.